Sunday, August 26, 2007

Sepultar a velha educação do novo governo

Quem anda pela Universidade Estadual de Feira de Santana, com um pouco de atenção, quando passar em frente ao prédio da reitoria encontrará uma lápide com os dizeres mais ou menos seguintes: “aqui jaz a política educacional do governo Paulo Souto sepultada pela greve docente das universidades estaduais em 2002” . Depois de o governo de Jacques Wagner, do Partido dos Trabalhadores (?!), cortar os salários dos grevistas, o redator desse texto não teve oportunidade de ver o túmulo, mas, quem quer apostar quer se cavarmos sob a lápide não encontraremos nada. Ora, o cadáver foi roubado.
Sim, senhores. Essa violação de túmulo, crime em diversas religiões e legislações civis foi praticada por ninguém menos que o progressista, o sensacional, o quase socialista governo do PT. Roubaram o cadáver e o empalharam. E nas mãos desse governo que congrega as forças mais socialistas do Estado como a multinacional Aracruz Celulose (que expulsa trabalhadores rurais indígenas e quilombolas de suas terras), as maiores empreiteiras do Estado, grandes mineradoras que usam trabalho escravo nas carvoarias e juntas doaram algo em torno de R$ 1.300.000,00 (um milhão e trezentos mil reais). Com o sopro de morte dessa bizarra aliança entre PT, grandes empresas nacionais e multinacionais, os coronéis mais violentos dos sertões e a ala B do PFL, o cadáver votou à vida. A velha política educacional do carlismo ressuscitou nos braços progressistas e socialistas de Wagner e Sauer.
Em que consistia o ex-cadáver: ora, em resumo, sufocamento da educação pública através do corte de verbas mesmo com o aumento da arrecadação do Estado; poucos funcionários públicos por Concurso e muitos REDAS (afinal, pra que trabalhador com direitos políticos?); precarização contínua da Educação Pública de modo a favorecer o ensino privado e rebaixar a cultura e a qualidade da escolaridade dos baianos; repressão com corte de salários, processos, polícia e outras formas de perseguição contra professores que ousarem desafiar essa política educacional oficial.
Seguindo o exemplo de como destruir a educação pública, a UFBA corre o risco de servir de laboratório não de uma violação de túmulo, mas de um assassinato. Dessa vez, o testa de ferro do petismo, o reitor da UFBA, sob o bonito nome de “Universidade Nova” (bonito como uma coroa de flores) está esquentando as balas para assassinar a Educação Superior Pública. Da cabeça do reitor Naomar saiu uma proposta bizarra de precarização dos profissionais superiores através do homicídio do ensino superior. Trata-se de transformar os cursos em um tal de bacharelado interdisciplinar que forme um profissional que não tem especialização ou formação alguma. Olho nessa coisa de universidade nova, gente.
Que resta? Nossa impotência diante do monstro que é o modelo autoritário e precarizador de gestão da educação pública renascido pelas mãos de Wagner e Sauer? Acreditamos que não. Somos daqueles que acreditam que pode nascer algo melhor de nossas mãos. Somos daqueles que acreditam que uma, duas ou três rosas podem ser destruídas, mas que é impossível deter a primavera. Somos daqueles que acreditam que a Educação pode e deve ser um instrumento de libertação, de emancipação da ignorância produzida pela miséria, pela opressão, pela violência, pela falta de oportunidades.
Também somos daqueles que acreditam que “quem sabe faz a hora e não espera acontecer”.
As greves dos professores das escolas e universidades públicas têm nos ensinado que a péssima educação pública nas escolas dos níveis fundamental e médio não são fruto de uma natural desmotivação de professores e alunos, mas de uma crise que atinge a infra-estrutura das escolas, a priorização da politicagem ao invés da educação, os baixos salários dos docentes, as péssimas condições de trabalho para esses e para os servidores; a falta de recursos e a limitação ainda grande das universidades públicas em formarem profissionais críticos, comprometidos com a sua profissão.
Nossa palavra de ordem: sepultar a velha educação do novo governo!

Flávio Dantas Martins

Uibaí, 06 de julho de 2007

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